O Brasil e a Proteção da Camada de Ozônio: uma parceria bem-sucedida entre governo, setor produtivo e sociedade.

“Brasil tem sido um exemplo no setor de espumas pela adesão total da indústria para eliminação de substâncias que agridem a camada de ozônio”, afirma especialista

Entrevista: Paulo Altoé

 

 

Mestre em química pelo Instituto Militar de Engenharia (IME), Paulo Altoé se especializou em espumas de poliuretano, área em que trabalha desde 1980 como cientista e engenheiro de desenvolvimento de produtos e aplicação no mercado de espumas, na Dow Brasil Sudeste Industrial, em São Paulo.

Como cientista, Altoé apoia o Comitê Técnico e Econômico do Protocolo de Montreal a elaborar relatórios com informações que subsidiem o setor de espumas de poliuretano na substituição do HCFC-141b por substâncias ambientalmente adequadas. Atualmente, ele é co-coordenador do Comitê de Opções Técnicas para Espumas Rígidas e Flexíveis (FTOC) do Protocolo de Montreal.

Em entrevista exclusiva, Altoé comenta sobre o FTOC e a produção científica para esse setor, os principais desafios para a área de espumas de poliuretano e o sucesso dos 30 anos do Protocolo de Montreal.

O que é o Comitê de Opções Técnicas para Espumas Rígidas e Flexíveis (FTOC) do Protocolo de Montreal e qual sua relevância para as decisões tomadas no âmbito do Protocolo de Montreal?

O Comitê de Opções Técnicas para Espumas Rígidas e Flexíveis é formado por cientistas, pesquisadores, especialistas, engenheiros, assessores. Eles têm como finalidade atualizar todas as informações relevantes na área de espumas e de aplicações, que incluem os agentes de expansão, e não penas as espumas de poliuretano, mas outras espumas que chamamos de espumas poliméricas. Esse Comitê tem a responsabilidade de juntar essas informações em relatórios e, em conjunto com o Painel de Avaliação Técnica e Econômica, disponibilizar informações para o Protocolo de Montreal. Essas informações são disponibilizadas às Partes, que podem consultar e avaliar essas opções para implementação de seus projetos, de tal forma que esses países que fazem parte do Protocolo de Montreal possam adotar as tecnologias mais adequadas para as necessidades de cada situação e de cada país. É importante salientar que nenhuma tecnologia é imposta, quer pelo Protocolo de Montreal quer pelas agências implementadoras, para que atenda uma exigência do Protocolo ou da agência. Isso está a cargo das Partes; elas têm a liberdade de escolha na tecnologia que seja mais adequada à sua necessidade. Este é o papel do Comitê: preparar relatórios com informações atualizadas sobre tecnologia e aplicação no segmento de espumas.

Quais países integram e/ou colaboram com os relatórios desenvolvidos pelo FTOC? O Brasil e a América Latina têm grande representatividade?

O Comitê é composto por 22 membros, os quais representam todas as regiões do globo. Há representatividade dos países desenvolvidos e dos países em desenvolvimento, de tal forma que exista um equilíbrio entre essas regiões para discussões e definições de opções técnicas. O Brasil está representado, assim como a Colômbia. Então, a participação de pessoas dessas origens significa uma boa representatividade da América Latina em cenário mundial. Nós cobrimos toda a região que vai desde o cone sul até o México.

Como o seu trabalho no Brasil se concilia com os objetivos do Protocolo de Montreal e com sua atuação no FTOC?

Como membro de uma empresa com atuação forte no mercado local e global de espumas rígidas e flexíveis, e como um cientista e engenheiro de desenvolvimento de produtos e aplicação no mercado de espumas, acredito que meu trabalho se ajusta às necessidades e aos objetivos do Protocolo de Montreal. Tenho atuado por muitos anos nesse segmento e isso tem contribuído de forma substancial para que eu compartilhe as informações adquiridas durante esse tempo de trabalho e experiências de campo para enriquecer as informações dos relatórios que o Comitê tem apresentado ao Protocolo.

Eu diria que essa participação junto ao Comitê de Opções Técnicas de Espumas representa algo importante, não só para mim, mas para o Brasil, que tem compartilhado informações do nosso mercado com outros países através dessa participação no comitê.

Como avalia a adesão do setor de espumas no Brasil à substituição das substâncias destruidoras da camada de ozônio por alternativas ambientalmente adequadas?

O Brasil tem sido um exemplo no setor de espumas pela adesão total da indústria para eliminação de substâncias que agridem a camada de ozônio. Isso tem acontecido de forma muito organizada, porque o projeto elaborado pelo Brasil foi muito bem feito, é muito claro. O Programa Brasileiro de Eliminação dos HCFCs, que cobre duas etapas, teve um grande sucesso na primeira etapa, cumprindo as metas do Protocolo de Montreal, e agora em andamento de forma muito organizada para a segunda etapa, que previsto para ser concluída em 1º de janeiro de 2020 (referente ao Setor de Manufatura de Espumas de Poliuretano).

Quais os principais desafios que o senhor identifica para a área de espumas de poliuretano para cumprir as metas estabelecidas pelo Protocolo de Montreal nos próximos anos?

A segunda etapa de eliminação dos HCFCs realmente apresenta um grande desafio para a indústria, especialmente para as pequenas e médias companhias. A troca de tecnologia pode criar alguns desafios para os formuladores. Em função disso, recentemente, o Brasil organizou um seminário para prover informações para a indústria (Seminário sobre Formulação para Espumas Rígidas de Poliuretano, São Paulo, maio 2017), especialmente para essas pequenas e médias empresas tentarem vencer os desafios de formular com as novas alternativas. Apesar de existirem tecnologias disponíveis para superar esses desafios, eles trazem dificuldades. Um exemplo disso é em relação aos produtos inflamáveis, que são adequados para espumas, porém, trazem uma dificuldade adicional por apresentarem um grau de inflamabilidade. Outro exemplo é o caso de água como agente de expansão, que seria excelente do ponto de vista ecológico e de custo, porém, tem algumas dificuldades do ponto de vista de processo. Por fim, a quarta geração de produtos, que são produtos excepcionais, os HFOs, por proverem espumas de alto desempenho e bom ou exelente isolamento térmico, tem uma dificuldade adicional que é o custo, o que encarece consideravelmente as formulações. Temos que pensar também no uso de substâncias que não tenham um impacto negativo no aquecimento global. Teríamos a possibilidade de usar os HFCs, porém, pelo impacto negativo no aquecimento global, precisam ser substituídos por substâncias que, além de não criarem problemas para a camada de ozônio, também tenham baixo impacto ao aquecimento global. Então, todos esses desafios fazem com que essa etapa seja um pouco mais difícil, mas a indústria está preparada para oferecer alternativas adequadas para cada situação do mercado brasileiro.

Como avalia os 30 anos do Protocolo de Montreal e a contribuição do Brasil ao longo dessas décadas para a proteção da camada de ozônio?

Eu penso que o Protocolo de Montreal tem muito a comemorar nesses 30 anos de existência. Primeiro, porque é um acordo global que atingiu um consenso total com signatários de todos os países-membros da ONU. Depois, pelos benefícios que o Protocolo trouxe para a indústria em geral. O Protocolo trouxe inovação, criação de novos produtos, melhoria de processos para a indústria e, especialmente, fomentou muitos segmentos da indústria. Também capacitou um número muito grande de pessoas que atuam nos vários segmentos onde o Protocolo atua. Por fim, e o mais importante, é que o Protocolo tem atingido seus objetivos em relação à eliminação de substâncias que agridem a camada de ozônio, fazendo com que isso se tornasse uma realidade. O Brasil está inserido nesse contexto, porque é signatário do Protocolo e tem cumprido os objetivos e as metas através da eliminação dessas substâncias e tem dado sua contribuição, não só através da eliminação, como também ao trazer para o nosso país melhorias no parque industrial, na capacitação, na inovação, e tem podido compartilhar os exemplos que tivemos de sucesso com outros países para que juntos consigamos o futuro melhor que tanto desejamos.

 

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